Poema pútrido

Friedrich Nietzsche

É inegável a influencia do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) no mundo contemporâneo. Sua filosofia impactou muitos intelectuais ao propor à morte de Deus, o niilismo, a teoria do além-homem; enfim, uma séria de pensamentos que impulsionaram o movimento ateísta.
No pós- modernismo, período em que vivemos, as obras de Nietzschie são frequentemente usadas para justificar essa cultura pessimista e negativista que vivemos.
No Brasil, temos um expoente na literatura que aborda de uma maneira original esse lado negativo da vida: Augusto dos Anjos (1884-1914). Abaixo transcrevo um trecho de um de seus sonetos mais famosos, "Psicologia de um vencido":

"Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Augusto dos Anjos
Alguns críticos não o consideram um poeta pós-moderno, mas, polêmicas a parte, seus textos são bastante fúnebres. Conforme dito anteriormente, segue aquela linha de raciocínio nietzscheana carregada de uma revolta, uma negação, um profundo pessimismo da vida.
Não sei dizer se ele foi ateu, ou chegou a conhecer as obras do filósofo alemão, mas isso também não importa por ora. Em 2007, tive a audacia de fazer uma intertextualidade com suas obras e escrevi o poema a seguir. Espero que gostem:

Poema pútrido
Nada de bom define o que sou
O resto daquilo que mofou,
Pior que o lixo atômico
A ânsia que antecede o vômito
E a repugnância deste mesmo vômito.

O urubu me cobiça do seu vôo,
Sou tudo aquilo que te causa enjôo.
O infortúnio dos fetos
Que sofrem o aborto.
Sou a decomposição do morto.
A animalidade e seus dejetos.

A secreção das DST’s
As calamidades nas tevês
Se ao menos fosse os vermos nos poemas
De Augustos dos Anjos
Já me sentiria privilegiado.
Mas sou as lombrigas na barriga
Do menino analfabeto segregado.

Sou os textos fracassados dos escritores
A humanidade e seus desamores.
Sou o doente na fila do SUS
As feridas, o sangue e o pus.

Eu sei que sou um poema imundo.
Mas pior ainda é esse seu mundo.
Pois enquanto você me lê, bem aí
No conforto, com nojo de mim.
Lá fora há um moribundo,
Nas trevas de um desdém profundo
E precisa muito de ti.

 Feliz Páscoa a todos!!!

Comentários

  1. Não sou muito bom em comentários, mas vamos lá! Friedrich Nietzsche viveu um período de descobrimentos e comflitos entre os povos, por ter visto imagens crueis, ele pode simplesmente ter perdido tua fé, acreditar que Deus estaria morto, abandonando os filhos na maldida terra que criou. Sobre poema, profundida e palavras que desprezam a sim mesmo, comparando-se com algo extremamente ruim... Caro amigo, aquele que se despreza não passa de um melancólico que não acredita mais nas promessas de Cristo e segue vivendo apenas a espera do fim.

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