Liberdade fatídica


Cercado por enormes paredões de concreto, o menino crescera acreditando que o mundo era todo marrom cor-de-muro, com leves variações de tons, entre a terra e sua pele morena.

Os pais de garoto trancaram-lhe naquele lugar desde muito cedo. Preceitos e fins de mundo? Promessas e messianismos? Não se sabe ao certo. Era de sentir pena tantas fechaduras naquela vidinha quase sem cores e de uma única nota: dó.

Mas a cada novo dia, o menino descobria outras tonalidades. Como a primeira vez que olhou para o alto, viu o céu, não sabia que era céu, como eu e você sabemos, seus olhos cristalizaram-se e transparecia a alegria de uma criança que se descobria, um ser humano livre para amar.

Ou daquela vez em que viu os pássaros e seus cantos matinais, novas notas conhecera. O menino cantarolava discursos pela liberdade, mesmo sem saber o significado e a potencialidade quem tem um homem livre. Seu gesto de protesto se concretizava quando fechava os olhinhos e abria bem os braços, sentia-se voando como os pássaros!

Até que num sol do meio-dia, os raios penetrantes daquela estrela impulsionaram o pequeno escravo das mesmices alheias. Pouco a pouco subia o muro, escalava degraus, juntando forças e, enfim, conseguiu enxergar além do muro.


Viu pessoas, novas cores, vozes. Sim, havia vida depois daquela clausura imposta! Entretanto, na ânsia de ser livre, o menino se jogou daquela alta muralha, queria bater as asas e ao invés de abraçar a liberdade, abraçou a morte.


Moral da história: A liberdade nos encoraja a escalar muros, a descobrir novos lugares. Mas o despreparo em lidar com ela pode ser fatal.


Adamo Antonioni

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