Sol vermelho em um quarto cinza

Sombras nubladas num céu entristecido. Não era o "céu do céu", era o céu dentro de mim, na escuridão de um ser que se desencontra entre dúvidas de uma solidão que desencanta.
Brisa gélida soprava, de arrepiar espinha e dar calafrios. Não era "frio de frio do tempo". Era frio de um coração empedernido pela dureza da frieza que rasteja pelos cantos da casa mal-assombrada, encontrando-se com as ratazanas. Doces animais incompreendidos, somente elas ouvem os gritos sufocados de uma alma decaída.
Estava ali, mas não estava. Não sei para onde foi meu eu, sem saber que no mesmo lugar fiquei, entre sussurros e gritos de socorro. Mas não se pode ouvir a voz de um fantasma que vaga na sombra da humanidade que não sabe sequer para onde vai.
Fantasmas não sangram, só assombram o sono de mentes perturbadas. Oh, quem és tu que perturbas meu sono e me faz sangrar? Sou eu mesmo, que esvai na fumaça do medo que impregna nas podres paredes deste quarto abafado. O ar não circula, os mofos crescem. A alma padece, o sangue não circula, escorre pelo pulso, aberto...
Enfim rubra cor, num furta-cor a espalhar vermelho-sangue pelas paredes cinzas e frias. Já não mais frias, pois aquecidas pelo que de mim esvaía. Já não mais cinzas, pelo que de mim pintava com a cor do amor.
Lá fora, era um dia azul, o dia mais lindo que o céu pôde me dar. Em mim, as sombras arrefeceram pelo sol vermelho escorrendo do pulso, e que agora dorme, jaz em paz, para sempre.


Adamo Antonioni 

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