Eu estarei lá
 
Quando as luzes dos carros sufocarem a imanência de tua arte, eu estarei num beco qualquer da cidade rezando pelo ápice de tua elevação cultural.  Pode até a fumaça da poluição prejudicar sua metafísica, mas farei vigílias e mais vigílias para te ver brilhar.  Quando tuas lágrimas escorrerem, eu estarei lá. No orvalho da madrugada, no vento silencioso que sopra em teu rosto e secarei tua dor. Fecharei meus olhos para não te ver chorar, sei que não gosta de demonstrar tuas fraquezas. Quero ficar perto de você, ainda que distante.  No fundo do palco, bem escondidinho, entre o canto escuro e a porta de saída. Estarei assistindo o teu espetáculo e vibrando com os holofotes que saem do teu interior e ilumina a minha noite. Puxarei os aplausos e os assovios. Talvez não me veja, mas eu estarei lá.  Mesmo que o horizonte amplie tuas asas e te levem para além do alcance de meus braços. Eu estarei nas faíscas do sol poente que tocam o teto de tua casa. Farei trovoadas de pensamentos ao entar...
 
 
 
 
 
 
